Otávio Rodrigues

OTAVIO_Vestibular_2017

Otávio Rodrigues

Estudante de Filosofia

“Eu escolhi a UFSC porque é uma universidade federal, e existe todo um conceito sobre as universidades federais, a colocação, o espaço. Essas questões foram decisivas. Analisei os currículos dos cursos que me interessei, e como já residia aqui, achei mais viável.

O primeiro curso em que eu passei foi Letras – Português, fiquei três semestres. Mas me deparando com algumas questões no curso de Letras, eu reparei que a maioria dos teóricos que eu estudava na área de teoria literária, a que eu mais me interessava, eram filósofos. Então eu pensei que precisava estudar Filosofia antes, para poder contemplar qualquer área das humanidades. Eu sentia falta de uma base filosófica mesmo, por isso resolvi mudar de curso.

O que eu mais gosto na Filosofia é a parte de voltar aos conceitos básicos de como o conhecimento humano foi fundado. O curso dá uma perspetiva de como o conhecimento e como o ser humano ocidental se organiza e se estrutura em relação ao pensamento, e como ele constrói as coisas a partir do conhecimento.O meu maior interesse é nessa linha histórica e que a gente consegue trilhar pelo conhecimento humano.

Eu sou trans, nunca sofri preconceito por isso, e acho que a UFSC teve um papel fundamental nessa realidade. Nunca passei por nenhum problema em relação ao meu nome social, minha vivência física ou biológica. Nem agora e nem antes da transição. Acho que o nome social é fundamental para as pessoas trans, que têm uma identidade de gênero que não corresponde com o que está em seu documento. A UFSC dá uma base com o nome social para você não sofrer em várias instâncias ou passar por algum problema vexatório. Justamente porque existe essa política de acolhimento, de integração, a partir do nome social. Isso é fundamental. Claro que se eu não tivesse nome social seria outra perspectiva.

Me reconheço como parte de uma dicotomia de gênero – você não se encaixa, mas a sociedade coloca você em dois gêneros: o feminino e o masculino. Dentro do masculino e feminino existe uma gama de estereótipos, do que fazer ou não fazer. Isso é como eu entendo o gênero a partir da minha subjetividade. Quando você não se encaixa naquilo que foi pré-determinado e começa a se identificar com outra realidade de gênero, no meu caso a identidade masculina, você acaba não se sentindo confortável com as coisas que está fazendo, com o teu corpo. Então tem que buscar uma forma de viver bem. Infelizmente o gênero te dá isso: tu tem que fazer uma escolha social para se adequar e se sentir melhor socialmente e contigo mesmo.

Eu acho que a Filosofia me ajudou na transição, mas depende muito, porque não é uma coisa homogênea. Não é porque eu entrei no curso que essas mudanças vão acontecer. A Filosofia me ajudou a me conhecer melhor e a conhecer o mundo em que eu vivo. Essa foi minha maior relação e minha maior mudança. É conhecer o mundo e me conhecer ao mesmo tempo e saber como eu queria existir no mundo. É uma relação meio subjetiva, porque eu tive essa relação com o meu curso, com a minha área de conhecimento, mas não necessariamente outra pessoa vai ter a mesma perspectiva.

A minha maior mudança foi na área do conhecimento, a Universidade dá uma abertura pra conhecer muitas coisas e fazer uma relação das áreas. Não é porque você faz Filosofia que não pode fazer outras cadeiras, matérias em outras áreas compor o próprio currículo. Uma liberdade maior de experienciar outras áreas do conhecimento, essa oportunidade de interação que a UFSC oferece.”