Luiz Fernando Ne-Gatxa Patté

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Luiz Fernando Ne-Gatxa Patté

Estudante de graduação em Jornalismo, indígena do povo Xokleng

“Ser estudante da UFSC é um peso enorme, o peso da responsabilidade mesmo. O estudante não indígena tem ali a sua família incentivando, ou talvez nem se importando. No meu caso tem, além da família, um povo inteiro, atrás, acreditando em mim, me dando forças para continuar.

No primeiro semestre eu cheguei ao ponto de pensar em desistir, porque eu não estava dando conta. Cheguei a pensar ‘O que é que eu estou fazendo aqui? É tudo totalmente diferente do meu povo…’. Aí eu cheguei na aldeia e um monte de gente veio conversar comigo, me dizer que eu era o exemplo dos alunos na escola indígena, que não era pra eu desistir. E eu acho que valeu a pena não ter desistido.

Quando a gente vem para cá, tem que ter a assinatura de dois caciques e um representante da Fundação Nacional do Índio (Funai). Então, toda vez que eles vão assinar, se sentam com a gente e começam a conversar sobre o que a gente está vindo fazer na Universidade, que a gente aqui está representando todo o nosso povo e não podemos desistir. Eles perguntam de quanto tempo é o curso e falam que, depois de formados, temos que voltar à aldeia para mostrar os frutos do curso.

Talvez seja esta a diferença do indígena para o não indígena: o não indígena trabalha para ele; o indígena trabalha pensando no povo. Quando eu me formar, vou fazer o que para o meu povo? Eu estou aqui estudando e já pensando no que vou fazer para o meu povo.

Os indígenas aqui são a minoria, e, dependendo de aonde eles vão, não são bem-aceitos. Eu, no curso de Jornalismo, me dou bem praticamente com todo o mundo. Mas eu tenho um tio na Engenharia Civil que sempre é alvo de brincadeirinhas de mau gosto, chamam ele de ‘pajezão’. Tem um pessoal na Medicina também que sempre reclama.

Eu me vejo bem-aceito. Sou um exemplo da diversidade e me tratam bem. E eu também trato bem os outros. Independentemente de ser branco, estrangeiro, negro, quilombola, me dou bem com todos. Acho que vem da pessoa aceitar de bom coração e conversar, perguntar se está tudo bem.

No primeiro semestre, que eu quase desisti, entrou uma nova coordenadora de curso e eles viram que eu estava quase reprovado. Começaram a me mandar mensagens, procurando saber por que eu estava faltando às aulas, se estava tudo bem comigo. Não só a coordenação, mas também os alunos. Acho que a aceitação da diversidade vem das pessoas mesmo.

Me sinto bem integrado. Alguns indígenas já sofreram preconceito, mas eu não. Não sei se é porque eu sempre me dou bem com todo o mundo, mas nunca sofri nada.”