Patricia Klock

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Patricia Klock

Enfermeira do Serviço de Neonatologia do Hospital Universitário (HU)

“Eu sou cria da UFSC. Fiz a graduação aqui e, logo que me formei, fiz o concurso para o HU e passei. Depois fiz o mestrado e o doutorado aqui. A formação na UFSC para mim foi uma transformação. Eu sempre digo para qualquer pessoa, independentemente de ter uma deficiência física ou não, que a UFSC te abre um mundo de possibilidades, muito além daquele curso que você escolheu.

A UFSC abre portas, impulsiona, desafia. Quando eu escolhi ser enfermeira, não fiz vestibular em outro lugar, era aqui que eu queria, e era enfermeira do HU que eu queria ser. E as coisas foram acontecendo, dando certo, e funcionou! Me sinto muito bem aqui, não me vejo em outra construção ou em outra possibilidade.

Quando as pessoas me veem, elas identificam que eu sou enfermeira do HU. Aí querem fazer o curso, um mestrado ou um doutorado, e vêm pra cá porque sabem que aqui tem tudo. Já conheci pessoas que me viram, deficiente e enfermeira do HU, e, não encontrando barreiras, decidiram fazer o curso de técnico em Enfermagem, fizeram o concurso do HU e foram trabalhar comigo, porque também eram deficientes e, se eu consegui, elas também conseguiriam.

A UFSC para mim é um grande orgulho. Eu tenho muito orgulho de fazer parte, eu visto a camisa da instituição, já participei de greve, me posicionei quando achei que as coisas não estavam bem. Eu me sinto muito bem-acolhida.

Eu já nasci assim, então eu aprendi a superar muitas barreiras ao longo da vida. Fui criando fortalezas, vencendo algumas coisas. Em alguns momentos vivi situações de preconceito. Por querer ser enfermeira e ter uma perna só, eu fui aconselhada a desistir do curso. Aí eu fiz escolhas: ou me revoltava ou investia em mim mesma, no meu currículo. As pessoas que falaram isso estão estagnadas, e eu fui adiante.

Eu nunca quis me fazer de vítima, nunca quis ter prioridade para nada. Sempre quis ter meu espaço para trabalhar tanto como qualquer um trabalha. Se o setor não está bom, precisa se adaptar a mim porque é o meu direito de trabalhar, não preciso trocar de setor. São essas coisas que fazem as pessoas refletirem, porque elas não estão acostumadas a lidar com isso.

Eu tenho tido muitas recompensas, sou muito feliz, gosto muito do meu trabalho, gosto muito do que eu faço.

A questão da diversidade está sendo um processo de construção coletiva, tanto das pessoas que não se enquadram nos padrões tradicionais como da própria instituição, que está indo ao encontro dessas pessoas, querendo ouvi-las, saber quem são. Eu estou aqui há mais de 15 anos, se for contar desde a graduação. E só no ano passado veio uma assistente social da Reitoria ao meu setor para saber quem eu sou, como eu trabalho, como as coisas funcionam.

Eu já tive situação de queda no trabalho, e não foi porque eu sou deficiente. Eram as mesmas situações de risco em que outras pessoas caíram. E eu reportei, não foram tomadas providências e só no ano passado a assistente social veio ao meu encontro, mas porque ela estava fazendo uma pesquisa para o doutorado dela. Mesmo assim, eu vejo esse movimento da instituição de ir ao encontro, querer saber quem são essas pessoas, como a Universidade pode contribuir. Está engatinhando ainda, mas só esse engatinhar já causa um grande reboliço.

Não é questão de assistencialismo, fazer rampa e calçada. É compreender o mundo do outro, saber quais são as necessidades, ter respeito. E isso eu não percebia antes. A gente se enquadrava e construía o nosso caminho individualmente. Agora eu percebo que a coisa está se institucionalizando, querendo se formalizar, ser algo planejado.”